Há pelo menos dez anos, ele começou a produzir e customizar armas em uma oficina no quintal da própria casa, em Vigário Geral, no subúrbio do Rio. Nesse período, mais de 30 carabinas foram comercializadas e mais de 100 customizadas, muitas delas para outros estados do país. No arsenal particular, Paulo Martins, de 62 anos, conta com 15 armas.
Paulo, que também é fotógrafo, é um verdadeiro artista das armas de ar comprimido, usadas em competições de tiro esportivo e que disparam apenas chumbinho.
- Já recebi pedidos para trabalhar com armas de fogo, mas recuso. Daria para ganhar um bom dinheiro, mas o meu negócio é o tiro esportivo.
Paulo confecciona de forma artesanal as coronhas das armas, a parte de madeira que serve como suporte, daí o termo coronheiro, uma profissão considerada em extinção. Ele também faz a customização das carabinas, que consiste na instalação de equipamentos como cilindros de oxigênio, válvulas, entre outras peças que ele mesmo cria, como apoios e estabilizadores de tiro.
Técnico em mecânica e com noções de pneumática e hidráulica, Paulo Martins é um autodidata. Em 2004, se aprofundou no tiro esportivo através da internet e adquiriu conhecimento em fóruns promovidos por sites especializados.
- Sempre gostei de tiro. Ganhei a primeira espingarda do meu pai quando tinha nove anos. Mais tarde, comecei a produzir para mim mesmo. As pessoas começaram a apreciar o meu trabalho e encomendar armas. Um cliente só tem nove armas feitas por mim.
'Cada arma é exclusiva, peça única'
Paulo evita falar em valores, mas a fabricação de uma coronha feita por ele varia entre R$ 1.400 e R$ 3.000. Ele diz que trabalha durante 15 dias para entregar uma coronha pronta, com uma jornada de dez a 12 horas de trabalho por dia. O coronheiro se compara a um alfaiate, que faz um terno sob medida.
- Você pode comprar uma arma em uma loja, mas ela vem com uma coronha padrão. O meu trabalho é adaptar o armamento ao atirador. Eu vejo do que ele precisa e regulo de acordo com a necessidade, como distância entre o gatilho e o ombro e regulo a empunhadura de acordo com a pegada, por exemplo. É um trabalho único e personalizado. Cada arma é uma peça única.
Paulo, que também é conhecido como Mestre, já vendeu armas para estados como São Paulo, Santa Catarina, Manaus, Ceará, Mato Grosso, Brasília, entre outros. Além disos, um brasileiro que mora na África do Sul já fez contato com o coronheiro, assim como atiradores de Portugal e Espanha.
Armas de até R$ 17.000
As armas de ar comprimido custam em média R$ 6.000, mas existem algumas que chegam a variar entre R$ 11 mil e R$ 17 mil. A maior parte é fabricada na Europa. A precisão impressiona para uma arma que não é de fogo. Uma carabina é capaz de atingir uma lata de refrigerante a cem metros de distância e uma garrafa pet a 200 metros.
A madeira usada na fabricação das coronhas geralmente é nobre, como imbuia, pinho de Riga e louro faia. A maior parte da matéria-prima é adquirida em demolições. Para regular as armas e melhorar a precisão, o coronheiro, um dos três em nível de excelência no Brasil, chega a fazer 300 disparos em um dia. Alguns armas levam até dois dias para serem reguladas com perfeição.
Paulo Martins também é bom de tiro. Ele compete na modalidade Benchrest, em que o atirador precisa atingir 25 alvos, cujos centros tem apenas dois milímetros de diâmetro. Ainda assim, diz que prefere encontrar os amigos a competir.
- Eu gosto de reunir os amigos e bater papo. Se eu ganho uma competição com uma arma minha, meus clientes ficam desconfiados. Prefiro que eles vençam com as minhas armas - brinca.
Quem quiser ver mais do trabalho do mestre alfaiate de armas de ar Paulo Martins acesse o blog: http://coronhasmartins.com.br/
Matéria publicada com autorização do Paulo Martins
Matéria publicada com autorização do Paulo Martins
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